O uso clínico de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) traz
riscos cardiovasculares que adquirem implicações importantes para a saúde
pública, colaborando para o aumento da taxas de doenças crônicas em
países de baixa e média rendas. As evidências de um estudo internacional
realizado por Patricia McGettigan e David Henry e publicado esta semana
na revista PLoS Medicine esclarece o risco dos AINEs, levantando questões sobre o uso e a promoção de medicamentos potencialmente perigosos.
Os AINEs são amplamente prescritos para controle da dor em pacientes com osteoartrite
e várias outras condições dolorosas. O grande número de medicações
neste grupo é dividido em anti-inflamatórios inibidores seletivos da
ciclo-oxigenase (COX) e os não seletivos da COX. Esta classificação
baseia-se na inibição seletiva da enzima
COX-2, que é a principal responsável pela geração de mediadores
inflamatórios. O surgimento dos inibidores seletivos da COX-2 na década
de 1990 foi muito bem recebido pelos médicos, uma vez que estes
medicamentos eram esperados para reduzir os efeitos adversos
gastrointestinais associados à inibição da COX-1. No entanto, o
entusiasmo diminuiu quando se descobriu que o rofecoxibe (Vioxx), uma
molécula precoce e agressivamente comercializada desta classe de
medicações causava aumento do risco de eventos cardiovasculares graves.
Posteriormente, diversas revisões sistemáticas e meta-análises mostraram
que outros AINEs também foram associados a eventos cardiovasculares
adversos.
O perfil adverso cardiovascular dos AINEs inclui risco de aterotrombose como infarto do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral,
que pode ser fatal. O aumento do risco cardiovascular tem sido
observado tanto em pessoas com um risco elevado para doença
cardiovascular quanto em indivíduos anteriormente saudáveis, e este
risco parece ser dose-dependente. O que é interessante, contudo, é que o
aumento do risco cardiovascular tem sido variável com o uso de
diferentes moléculas. Além do rofecoxibe, o diclofenaco é o agente mais
associado com um aumento do risco de eventos cardiovasculares: um risco
de eventos cardiovasculares graves de cerca de 40% a 60% superior em
relação à não utilização de AINEs tem sido relatado. Isto é uma taxa
equivalente ou possivelmente superior àquela relacionada ao uso do
rofecoxibe, agora retirado do mercado. Em contraste com outro AINE
tradicional, o naproxeno, que foi observado ser relativamente benigno,
com um risco cardiovascular neutro ou muito mais baixo do que o do
diclofenaco.
A razão para esta variabilidade do risco cardiovascular entre os
AINEs não seletivos não é completamente compreendida, mas uma pesquisa
mecanicista sugere que ela poderá estar relacionada à extensão da
inibição da COX-2 pelo uso de drogas que não bloqueiam completamente a
COX-1. Quanto mais alto o nível de inibição da COX-2 e mais baixo o
nível de inibição da COX-1, maior parece ser o risco de eventos
cardiovasculares trombóticos como infarto do miocárdio fatal ou não fatal e de acidente vascular cerebral.
Isto provavelmente explica o baixo risco cardiovascular do naproxeno,
que bloqueia completamente a COX-1 e, portanto, tem efeitos
antiagregantes plaquetários que reduzem eventos cardiovasculares. Quando
a inibição da COX-1 é incompleta (<95 a2="" a="" ativa="" class="postTip word_cnt_689734_4" das="" h="" o="" para="" span="" style="font-family: inherit; font-size: inherit;" suficiente="" tromboxano="" xa2="">plaquetas95>
.
A inibição da COX-2 reduz a produção de prostaciclina vasoprotetora
(PGI2), uma prostaglandina que protege contra a trombogênese,
aterogênese e pressão sanguínea elevada. A inibição da COX-2, juntamente
com uma inibição incompleta da COX-1, proporciona um potente estímulo
trombogênico alterando o balanço PGI2-TxA2. Embora tanto o diclofenaco
quanto o naproxeno sejam não seletivos, as diferenças de inibição da
COX-1 e da COX-2 que cada fármaco atinge pode explicar a variabilidade
nos seus perfis de risco cardiovascular.
O que os autores acham?
O relatório de McGettigan e Henry mostra novas evidências sobre o uso
de AINEs em 15 países representando rendas alta, média e baixa. Eles
revisaram publicações sobre os perfis de risco cardiovascular de
diferentes AINEs, confirmando que o diclofenaco está associado a um
risco significativamente maior do que o do naproxeno. Usando dados do IMS Health 2011,
eles descobriram que o diclofenaco teve uma média de vendas três vezes
maior (ou de prescrição, no caso da Inglaterra e do Canadá) que a do
naproxeno nos 15 países estudados. A preferência pelo diclofenaco sobre o
naproxeno foi observada em países de rendas alta, média e baixa, apesar
do fato de que ambos os medicamentos já estejam disponíveis em forma
genérica por vários anos e as informações relacionadas ao perfil de
risco cardiovascular, de que os riscos associados com o diclofenaco
supera de longe os do naproxeno, já são conhecidas por quase uma década.
Eles observam que o diclofenaco continua a figurar nas listas de
medicamentos essenciais de 74 países, enquanto o naproxeno em apenas 27.
Seus resultados são impressionantes e sugerem que uma ação imediata é
necessária.
Fonte: http://www.news.med.br